lunes, 29 de octubre de 2012

MEDO DE AMAR

Declaro guerra ao medo de viver
Que trazes quando negas teu amor,
Não pode suportar um doce ardor,
Bem sei que muitas vezes faz sofrer,

Porém sem tê-lo ao lado? Posso ver
A noite tão escura e sem calor,
Dando vazão apenas ao temor,
Querida, é muito fácil se perder.

O rumo que procuro já me leva
Aos braços de quem quero sempre bem,
Distante do granizo, afasto a treva

E bebo desta imensa claridade
Que somente o grande amor sabe e contém
Trazendo a mais real felicidade...

QUEM/?

Não saberei falar teu nome. Quem?
Nem quererei mais conhecer teus dias...
As noites passam, passa o dia sem
Que pelo menos venha alguém. Serias

Por um acaso, simplesmente o bem?
Minhas canções irão caber teus guias?
Da minha casa no meu quarto vem
A voz cansada a perguntar, virias?

Respondes nada e teu silêncio fala
Da dor, distante que no peito cala...
Minha voz muda, silencia e some...

És a distância mais cruel que tive...
Amor calado em teu semblante vive.
Quem souber diga, por favor, teu nome...

A MOÇA DOS MEUS SONHOS

A moça dos meus sonhos não me quer,
Deseja multidões, porém vou só.
Sereia no formato de mulher,
No pensamento sempre dando nó.

Vestido transparente e bem curtinho,
O vento faz a festa da galera,
Andando devagar, vai de mansinho,
Desfila pelas ruas. Quem me dera!

O amor tem destas coisas, sabes disso,
A gente quebra a cara vez em quando,
A moça não deseja compromisso,
Porém se bobear estou casando...

Ainda bem que a idéia está no forno,
Não tenho vocação para ser corno...

BAGUNÇA SEMPRE O CORAÇÃO

Não quero e nem consigo disfarçar
O amor bagunça sempre o coração
Às vezes digo sim, e penso não
Chegando num segundo a gaguejar.

As coisas vão mudando de lugar,
O mundo perde rumo e direção
Não tendo nem querendo explicação
Só quero nos teus braços me jogar...

Receba cada verso como abraço
Estreite com firmeza cada laço
Num louco descompasso, me perdi.

Se tudo o que mais quero é ter comigo,
Mesmo que traduzindo desabrigo
O gigantesco bem que vejo em ti.

DESCASO

Se o caso for descaso, caso logo,
Ocaso de esperança é noite fria,
Nos braços da mulher bela me afogo,
Bebendo cada gole, poesia.

Nas minhas orações, decerto rogo,
E peço alguma forma de alegria,
E quando em teus abraços eu me jogo,
Delícia sem igual me propicia

O fato de ser teu me faz mais forte,
O amor é pedestal, dando suporte
A quem deseja um tempo mais tranqüilo,

Por isso é que entre estrelas tão brilhantes,
Teus olhos, os mais puros diamantes,
Por entre mil neons, feliz desfilo...

O AMOR COMANDA

Servindo ao servidor, amor comanda
E segue sem destino, toma tudo,
Num solitário luto, inda me iludo,
Contudo a relação cedo desanda.

Afasto-me do cerne da questão
Buscando outro caminho que trouxesse
Bem mais do que leilão, simples quermesse,
De todos os problemas, solução

Estou de prontidão qual sentinela
Vislumbro meteoros kamikazes,
E as feras mais audazes e vorazes
O grande sentimento já revela.

Calcado nesta antiga experiência,
Não creio ser o amor, coincidência...

AMOR PERFEITO



Cantar o amor perfeito, sem enganos,
Viver desta esperança e crer na paz.
Seguir com lealdade; belos planos,
Pensar que finalmente sou capaz

De crer nas artimanhas dos ciganos,
Se imensa fantasia, a noite traz,
Sanando com ternura, cortes, danos,
Delírio que domina e satisfaz...

Um dia imaginei fosse possível,
Engodos tão comuns da mocidade,
E de repente vejo a realidade,

E o que me parecia ser plausível,
Transforma-se no imenso e vago tédio.
- Doutor há para o mal algum remédio?

FANTASIAS DA ILUSÃO


Vestindo a fantasia da ilusão,
Sorrisos estampando cada face,
Por mais que a vida doa ou mesmo embace,
É hora de viver cada emoção.

No quase fui feliz, não há senão,
E mesmo que a verdade nos desgrace
Aprendo a me virar noutro disfarce
Dançando junto à imensa multidão...

Olhando para os lados, outros tantos,
Hipnotizados caem pelos cantos,
Na louca gargalhada dos palhaços.

Vibrando sem porquês, querendo mais,
Bijuterias feitas carnavais,
Tropeço nos meus próprios, tolos passos...

RESTANDO MUITO POUCO

Restando muito pouco do que fomos
Não posso sonegar quanto sofri,
O quanto de esperança havia em ti,
A vida não escreve novos tomos.

O amor que repartimos, parcos gomos,
O tempo de sonhar, eu esqueci,
Sangrando cada verso, estou aqui,
Jamais me esquecerei do que não somos.

Errei ao te querer além da conta,
O verso que hoje faço desaponta
E mostra este vazio tão somente.

Morremos muito aquém do cais, do porto,
O velho sentimento agora morto
Aborta o que julgamos ser semente...

SEQUER PEGADAS

Mal pude responder aos teus poemas,
O tempo não deixou sequer pegadas.
Muitas vezes fugi de velhos temas
As manhãs repetiam madrugadas...

Hormônios precedendo piracemas,
As hóstias da paixão, envenenadas
Amores não passaram de problemas,
As tramas entre estradas malfadadas.

Mal pude perceber quanto te quis,
Talvez pudesse ainda ser feliz,
Mas era tarde. Falsa pedraria.

Quem sabe noutro tempo, noutra vida.
A mocidade preparando a despedida
Minha alma sem saber envelhecia....

AMARGURAS

Bebendo as amarguras de um amor,
Restando em minha boca o fel de um beijo,
O quanto quis falar de algum desejo
Que se perdeu, venal navegador.

De todos os delírios, o mentor,
Apenas o vazio que prevejo
Será meu companheiro, mas eu vejo
As réstias de um fantástico sol-pôr.

Opondo-me às insânias da paixão
Ainda teimo em crer que a lucidez
Trará qualquer instante de razão.

Meus versos são apenas o retrato
Do amor que há tanto tempo se desfez,
E em meio aos vendavais fingiu-se grato...

SEM SAÍDA

Não vejo outra saída, nem tampouco
Desejo outro caminho que não este.
A dor que calmamente me reveste
O canto de ilusão ficando rouco.

O quanto tu me deste era tão pouco,
A solidão servindo como veste
Não tendo mais um sonho que me ateste,
O que me resta então? Meu canto louco.

E o quase crer que existe a liberdade,
Morrer sem conceber felicidade
Ir caminhando ao léu, sem rumo e prumo.

Tentando pelo menos disfarçar,
Se a vida se esvaindo devagar
Bebi da fantasia todo o sumo...

NEBLINAS


Notívago, minha alma de noctâmbulo
Deambulando em becos mais escuros,
Equilibrando os passos, um funâmbulo
Vivendo entre temores, mil apuros.

A peça se anuncia num preâmbulo
Passando por momentos bem mais duros,
Às vezes preferia ser sonâmbulo,
Errante sobre pedras, altos muros...

Mas amo as frias trevas e neblinas,
Enquanto a palidez tanto me atrai,
Na quase transparência; já fascinas

E tomas as vontades num repente,
E quando a noite escura; vem e cai,
A névoa sedutora enfim se sente...

MAIS UM TEMPO

Levasse mais um tempo e eu mostraria
Que todas as verdades não são nada.
O quanto do viver pura utopia,
Minha alma pela sua, destroçada.

Buscando no luar a montaria,
A noite que pensei enluarada,
Agora se demonstra negra e fria,
Tampouco desnudando-se estrelada.

Foi bom te conhecer, tenha a certeza,
Mesmo que nada reste de nós dois,
Não deixo minha vida pra depois,

Porém entendo sim, sua incerteza.
Morrer de tanto amor; num só momento,
Liberto e sem fronteira o pensamento...

RENASCER


Poder morrer de amor e renascer
Nos braços de quem foi e não voltou,
Na doce sensação deste poder,
O quanto de coragem me restou.

Afasto-me deveras do meu ser,
Já nem pergunto mais sequer quem sou,
Apenas noutra vida quero crer,
Florindo o que deveras não granou.

Vieste num momento sem igual,
Tomando a minha Vida plenamente,
Assolaste o meu peito, vendaval,

Porém logo partiste, sem demora.
Se eu vivo, é por que sinto, de repente,
Que a morte chegará a qualquer hora...

A VELHA SOMBRA

A VELHA SOMBRA

Amiga, a velha sombra me acompanha,
Ausência tão presente pra quem ama
Há tempos vou seguindo a velha sanha
Inútil coração inda reclama.

Atravessando o mar, céu e montanha,
Mantendo sempre acesa a tola chama,
Minha esperança frágil, tão tacanha
Aguarda o reviver da antiga trama.

A cama já desfeita há tantos anos,
Guardando estes segredos: desenganos,
Degredos deste tosco sonhador.

Pudesse reviver, ah quem me dera,
Ausente há tanto tempo, a primavera,
O frio é desde então, desolador...

MARCOS LOURES